Do Mod ao Filósofo
Aquela hora já não dava pra distinguir bem o ambiente.
Talvez por culpa da iluminação, que contava apenas com fracas luzes laterais e alguns refletores que coloriam um ponto mais alto.Fosse também aquela cacofonia ensurdecedora, que fazia os orgãos vibrarem dentro do corpo.
Um movimento rápido com a cabeça e o lugar quente e cheio se transformava em uma pintura do Pollock, cheirando ao halito do Bukowski.
Havia ali uma presença impossível de ignorar.Com uma camisa polo listrada de verde e branco, tinha na mão uma latinha, que vez ou outra eu tomava também.
Havia ali uma presença impossível de ignorar.Com uma camisa polo listrada de verde e branco, tinha na mão uma latinha, que vez ou outra eu tomava também.
E sumia.Uma mão no ombro e aparecia de novo, sorrindo, suado e com um olhar bêbado, talvez cansado.
Mil anos depois ainda lembraria do rosto forte e da voz que ria na nuca.
Puxou minha mão e na palma deixou um papelzinho.Me dirigi ao caixa.Uma fila, uns caras, um segurança.
Puxou minha mão e na palma deixou um papelzinho.Me dirigi ao caixa.Uma fila, uns caras, um segurança.
Onde estava o papelzinho?Mexi no bolso."Perdeu algo?", era o segurança."Provavelmente.Perco tudo". No bolso não estava.A fila diminuia.
Alto e pele morena, de conversa fácil e sorriso debochado, continuava a olhar."Prejuízo?", ele disse. Tirei da bolsa dinheiro, desistindo do papel."Investimento", corrigi."Entendi",ele assentiu.E completou, pensativo: "Investe no caixa, lucra no bar e dá retorno no banheiro".Riu de novo com deboche, olhando pra mim.Me virei de volta à camisa listrada, com a latinha na mão.Maldito seja.