Quanto uma pessoa pode interferir na vida de outra?



A todo momento, percebendo ou não, somos influenciados em nossas vidas por fatores externos.Seja nas ações,pensamentos, ideais ou até mesmo desejos.
No momento que nascemos, é iniciada a nossa formação ideológica, cultural e religiosa.A partir daí,nos tornamos uma bola de neve cultural, agregando e absorvendo tudo o que nos cerca.
O Brasil é um país caracterizado exatamente por não ter uma característica específica. Somos um povo feito de misturas de raças, credos, culturas e classes sociais.
Com a colonização e exploração a partir da descoberta do Brasil em 1500 pelos europeus, aos índios que aqui viviam foi imposta a cultura cristã deste novo povo. Sem que lhe perguntassem, os europeus dominaram os verdadeiros donos da terra, tratando-os como animais, e quando estes discordavam, eram mortos, sem pesar algum. No entanto, os índios, assim como os africanos que vieram em seguida como escravos, conseguiram preservar boa parte de sua cultura.
Em cada região do país, alguns aspectos culturais tornaram-se mais fortes e mais específicos, mas em todas, a religião - principalmente a cristã-, exerce grande poder, algumas vezes sendo mais forte até que a monarquia ou o governo.
Esta miscigenação cultural é passada de geração em geração, e até hoje é perceptível em nossa cultura a herança dos povos antigos que aqui se estabeleceram.
Nossa forma de agir e pensar ainda é fortemente ligada a antigas crenças e hábitos, o que pode ser considerado uma estagnação cultural, embora muitos não percebam, por estarem condicionados a tais valores.

Mas Lílian, o que este bla bla blá todo que eu já cansei de ouvir nas aulas de História tem a ver com a pergunta que você fez lá em cima?Eu te respondo: Tudo, meu caro leitor.Caso não tivéssemos sido criados e “culturados“ desta forma, não viveríamos em uma sociedade como a atual, não teríamos os mesmos valores, bem como seriam diferentes os nossos critérios de julgamento.
Se você cresce em uma família religiosa, cristã e conservadora, será influenciado por estes valores, uma vez que lhe será imposto, por exemplo, a monogamia, conceitos pré-definidos de “bem” e “mal”, e uma série de doutrinas que vão lhe servir de guia para seus atos e pensamentos. Caso viva em um ambiente liberal, isso vai interferir também, embora seus hábitos irão se espelhar em diferentes valores.
Como eu disse anteriormente, o cristianismo exerceu grande força em nossa cultura, e até hoje seus dogmas regem grande parte da sociedade. Obedecer aos pais, ser fiel, tendo apenas um companheiro, pudores e tabus sexuais e a submissão feminina são claros exemplos destes dogmas.
Até hoje, nossas crianças são educadas de forma a segui-los, assim como a outros que foram levemente “atualizados”.
Se forem condicionadas a isto, é normal que as pessoas não percebam que muitas vezes estão interferindo nos desejos e necessidades individuais do outro, uma vez que nem sempre o que é convencionalmente o ideal é o melhor pra cada um.
Somos egoístas ao querer que a pessoa nos pertença, nos obedeça e esteja sempre ao nosso dispor, o que é normal, vindo de um povo criado de forma a acreditar que as pessoas se pertencem, ao inves de aceitar que são livres e tem seus desejos e ambições singulares.Vemos isto no período da escravidão e no machismo da sociedade, que sempre aceitou e até defendeu a submissão feminina.
É justo interferir no destino e nos atos de alguém apenas para nossa satisfação? O egoísmo é tanto que preferimos fingir não vê-lo à apenas deixar que o outro seja feliz, da forma que lhe for melhor. Pais controlam filhos, parceiros controlam parceiros, amigos controlam amigos. É tudo tão convencionado, que quando se deseja quebrar o elo, os valores morais estipulados lhe fazem ser alguém anormal, marginalizado e fora dos padrões previamente estipulados aceitos pela sociedade.
Não se deve pensar seguindo apenas estes valores. É preciso respeitar o individuo.Entender que cada um se difere em seus desejos, e que impor nossa vontade é fazer como os europeus fizeram com os índios. Desrespeitar o que a pessoa é, apenas por acreditar na soberania de nossas crenças, nada mais é que a satisfação de nosso egoísmo e comodidade.
O conceito de fidelidade deve ser algo natural, partindo da vontade pessoal de permanecer apenas com uma pessoa, e não se tornar uma regra. A partir do momento que isso se torna obrigação, o livre arbítrio é ferido e a postura não é tomada pensando no parceiro ou em si, e sim em costumes culturais.
Um pai não deve controlar a vida do filho, acreditando que esta lhe pertence. Ele precisa entender que se trata de um individuo, uma vida. Se lhe é privado o direito de agir conforme julgar certo, além de perder oportunidades, momentos únicos, também será perdida uma parte da vida que não lhe será compensada depois. A juventude é o momento que devemos aprender e acumular histórias pra vida, a bagagem que nos será útil até o fim da caminhada.
Somo seres livres, devemos viver de forma intensa, fazendo o que cada um julgar melhor pra si, sem se preocupar com a opinião dos outros ou precisar de aprovação e autorização para ser feliz.
Até mesmo quando tomamos alguma decisão errada, estamos acertando. É fazendo que se vive, tentando que se consegue, errando que se aprende.
Mas como faremos isso se estivermos sempre sendo controlados por alguém, seja diretamente, como é o caso de pais e parceiros, ou indiretamente, quando o receio de fazer algo fora dos padrões nos impede de seguir?





Reveja seus conceitos.








Quanto você pode interferir na vida de outra pessoa?
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